Depois de quedas em dois anos consecutivos, os assassinatos voltaram a subir em Tatuí. Estatísticas divulgadas pela SSP (Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo) neste mês apontam que houve aumento de 60% nos casos de homicídio doloso (quando há intenção de matar) entre 2011 e 2012.
O comparativo apresenta o “desempenho” do município nos quatro principais tipos de crimes (homicídio doloso, furto, roubo e furto e roubo de veículo). No segundo e no terceiro, houve redução mínima, com percentuais de menos 4% e menos 4,52%, respectivamente, entre o ano retrasado e o passado.
Em 2011, ocorreram na cidade cinco casos de homicídios, metade do registrado em 2010 e o menor número desde que a SSP começou a divulgar as estatísticas anuais e mensais. No ano passado, porém, o número de homicídios aumentou para oito, sendo 60% superior ao ano anterior.
O ano “mais crítico” para o município em se tratando de homicídio doloso foi 2003, quando a cidade registrou 35 casos. Porém, eles representam o número de boletins de ocorrências de homicídios e não de vítimas.
Conforme explicou o delegado titular José Alexandre Garcia Andreucci, num mesmo caso de homicídio, pode haver mais de uma vítima.
De 2001 para 2012, porém, houve queda significativa. A cidade passou de 30, no primeiro ano em que a SSP registrou estatística, para 8, no ano passado. A queda no comparativo de mais de uma década é de 73,33%, percentual comemorado pelas autoridades locais.
No comparativo entre 2011 e 2012, a SSP aponta duas reduções, uma nos casos de furtos e outra nos de roubos. As ocorrências de furto envolvem sumiço de objetos, celulares, bolsas e demais bens e caíram de 800, no ano retrasado, para 768, no ano passado – diminuição pelo segundo ano consecutivo.
Já os roubos tiveram queda de 177 para 169, de 2011 para 2012, e incluem crimes praticados com violência ou uso de armas. Os crimes dessa natureza caíram pelo terceiro ano consecutivo, sendo o menor índice desde 2001.
As ocorrências de furto e roubo de veículos, porém, aumentaram, passando de 159, em 2011, para 207, em 2012, crescimento de 30,19% entre um ano e outro. Ainda assim, a quantidade de furtos e roubos de veículos registrada no ano passado é 31,91% menor que em 2001, quando houve 304 casos.
Para Andreucci, pelo menos um fator contribuiu para o aumento dos casos de homicídio no ano passado. Dois boletins de ocorrência teriam sido registrados de maneira “equivocada”. “Depois, foi descoberto que se tratava de outros crimes”, argumentou o responsável pela Delegacia de Polícia Central.
Conforme ele, as ocorrências teriam de ser registradas como “morte a esclarecer e encontro de cadáver”. Por erro da equipe que elaborou os boletins, entretanto, teriam sido registrados como “homicídio consumado”.
Andreucci argumentou que, apesar do aumento, a Polícia Civil atingiu percentual de 83,33% de índice de esclarecimento dos assassinatos no ano passado, ao solucionar cinco dos seis casos que seriam de morte violenta. Desses, apenas um não teve autoria descoberta. “A vítima era um andante”, contou.
“A pessoa foi encontrada morta numa estrada vicinal, sendo difícil sua identificação”, comentou o delegado. “A vítima pode ter sido morta em outro município e jogada em Tatuí, ou poderia ser um andante que estava passando pela região”. O delegado ainda investiga as causas da morte.
Ele, entretanto, afirma que houve esclarecimento de “todos os casos graves” registrados em 2012. Entre eles, a chacina que vitimou Mauro de Camargo, 55, a esposa dele, Cleusa Mariano de Oliveira, 49, e a filha do casal, Camila de Oliveira Camargo, 19.
Os três foram mortos “com requintes de crueldade” no dia 24 de novembro do ano passado, no Enxovia do Meio.
Ao comentar as estatísticas divulgadas pela SSP, Andreucci destacou as quedas registradas pelo município entre os anos de 2001 e 2012.
De acordo com ele, é preciso destacar que, no primeiro ano, o município contava com população menor. “No ano passado, a cidade tinha praticamente o dobro de pessoas vivendo aqui. Ainda assim, conseguimos reduzir os crimes”, argumentou.
Para o delegado, em grande parte, é impossível para a PC – com a estrutura atual – impedir que homicídios ocorram. “O que cabe a nós é o esclarecimento, e nós estamos mantendo uma média de 80% desde o ano de 2007”, sustentou.
O titular destacou, também, que Tatuí não registrou “outros casos graves” no ano passado. “Não tivemos nenhum sequestro, nenhum roubo a banco, nem estouro de caixa eletrônico, como ocorreu em outras cidades da região”.
Ainda conforme o delegado, o aumento dos crimes de furto e roubo de veículos está relacionado ao período do ano. Segundo ele, Tatuí teve crescimento desses tipos de violência no último trimestre do ano passado por conta de “uma antecipação do verão”. “Os meses de novembro e de dezembro foram muito quentes, o que levou as pessoas a saírem às ruas”, argumentou.
Segundo ele, os casos de furto e roubo de veículos aumentaram, também, por conta do movimento na área central da cidade. Como o comércio estendeu o horário de funcionamento para até às 22h no mês de dezembro, as pessoas permaneceram mais tempo circulando a pé, deixando os veículos estacionados.
“Lembrando, também, que houve pagamento do 13o e que os cidadãos estavam com mais dinheiro, circulando pelas ruas da cidade”, citou o delegado.
Conforme ele, já em relação aos furtos e roubos, grande parte dos registros do último trimestre do ano passado – considerado o mais violento de 2012 – ocorreu na região central.
Os crimes teriam sido cometidos, na maioria das vezes, por menores. “Foram furtados ou roubados, nesse período, objetos de pequeno valor”, disse. O alvo eram bolsas, carteiras e telefones celulares.
No caso de furto e roubo de veículos, o titular explicou que os bandidos agem em diferentes períodos do ano e em diferentes locais, dependendo dos “eventos”.
“Eles atuam assim: procuram veículos que ficam estacionados por um longo período de tempo, por vítimas que vão a festas e clubes”, comentou.
A tática é conseguir o maior número de horas possível para levar o veículo até um desmanche ou escondê-lo até que uma documentação fria seja refeita.
Por essa razão, os registros desse tipo de ocorrência aumentam quando há bailes, ou eventos culturais. Entretanto, continuam a ocorrer com “regularidade” na região central, segundo levantamento da Polícia Civil.
Andreucci afirmou, ainda, que não há um veículo mais visado. De acordo com ele, são furtados “de Fuscas a importados”. “Quase todos os veículos são alvo dos bandidos desde os mais velhinhos aos mais novos”
Em geral, os veículos antigos são alvo de furto e os novos, de roubo (quando a vítima é rendida). Conforme o delegado, os primeiros são desmanchados para abastecer o comércio ilegal de peças. Já os segundos, em alguns casos, utilizados para prática de outros crimes, ou “fabricação de dublês”.
Redução
Apesar de não divulgar números, o delegado titular afirmou que houve redução nos índices de criminalidade no mês passado, em comparação com dezembro de 2012.
Segundo ele, a queda deve-se ao período de férias (escolares e de trabalho) e ao Carnaval, quando as pessoas tendem a viajar para outros locais.
Muitos têm como preferência o litoral do Estado, região onde o policiamento é reforçado nesse período. É por essa razão, conforme o delegado, que as polícias Militar e Civil têm contingente direcionado para as cidades litorâneas na “Operação Verão”.
“Há um movimento maior nesses locais e, consequentemente, um aumento de criminalidade”, disse Andreucci.
Por conta disso, a PC teria registrado queda nos registros de ocorrência em janeiro. “Nós já conseguimos sentir uma diminuição nos casos de furto e de roubo, que estavam ocorrendo mais frequentemente no final do ano passado”.
Para o titular, além do clima, outro fator contribuiu para o aumento da criminalidade no último trimestre de 2012. Segundo ele, a mudança na cúpula da GCM (Guarda Civil Municipal) acarretou em “certo desentrosamento”.
A corporação é considerada fundamental para a segurança pública do município. Conforme Andreucci, ela conta com 140 homens, com “quase 25 viaturas”, além de bicicleta e equipes do canil e Romu (Ronda Ostensiva Municipal). “Nós dependemos muito de uma boa atuação da GCM”, comentou Andreucci.
Segundo ele, outro apoio fundamental é da PM. A corporação estadual recebe, mensalmente, relatório estatístico com os locais de maior ocorrência dos crimes. A medida permite que a PM faça melhor planejamento das ações preventivas, com patrulhamentos e rondas ostensivas.
Por conta desse trabalho, houve a prisão, no final de 2012, de um grupo de seis menores de idade. Os adolescentes estariam promovendo “arrastões” na área central e seriam responsáveis por 90% dos furtos no final do ano.
“Em poucos casos, tivemos registros de crimes envolvendo valores altos e quadrilhas organizadas. Isso foi minoria”, falou o delegado.
De acordo com ele, a maioria dos furtos teria sido cometida por “batedores de carteiras”. “São aquelas pessoas que arrancam bolsas de mulheres e celulares. Esses foram os crimes mais graves que tivemos no final do ano”.
Por fim, o delegado comemorou o aumento do índice de esclarecimento de homicídios. Conforme ele, em 2001, a PC conseguia elucidar de 10% a 15% dos casos. No ano passado, o índice chegou a 83,33% sendo que, em 2011, ficou em 100%.
“O resultado é que a população acredita mais no trabalho da Polícia Civil. Dá mais informação, colabora mais”, destacou.
Como em um “efeito dominó”, os criminosos ficariam mais receosos em cometer delitos no município. De certa forma, isso contribuiria para a redução dos assassinatos e dos casos de maior gravidade e da mudança da “natureza” dos homicídios.
Andreucci afirmou que, em 2003, quando houve o maior número de casos de assassinatos em Tatuí desde que a SSP começou a registrar estatística, a maioria dos casos estava ligada a execuções por cobrança de dívida de droga e disputa de comando de tráfico.
No ano passado, a maioria dos casos de homicídio esteve relacionada a desavenças familiares e crimes passionais.
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