domingo, 10 de fevereiro de 2013

Campus do Conservatório será ‘para breve’



Deverá ser iniciada no segundo semestre deste ano a construção do campus do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”.
O pré-projeto do espaço, um complexo de prédios dotado de salas administrativas, estúdio, auditório e refeitório, entre outros, teve aprovação confirmada pelo diretor executivo da AACT (Associação dos Amigos do Conservatório de Tatuí), Henrique Autran Dourado, na quinta-feira, 7.
Em entrevista a O Progresso, Dourado informou que o anúncio da construção deverá ser feito pelo secretário de Estado da Cultura, Marcelo Mattos Araujo, e pelo governador Geraldo Alckmin, nos próximos meses. Também adiantou mudanças que estão sendo avaliadas pelo governo paulista.
Por sugestão de Dourado e equipe, o campus pode ganhar novos alojamentos, um prédio destinado à moradia de funcionários e professores, além de sistema de conexão à internet.
Este acesso possibilitará a troca de informações entre os alunos locais, de outros municípios, do país e do exterior. Para isso, o CDMCC deverá fazer uso da tecnologia EAD (ensino à distância).
“Estamos discutindo muito isso daí”, informou o diretor executivo, ao falar das inovações. A ideia nasceu a partir de contato que ele estabeleceu, em 2009, com responsáveis pela Manhattan School of Music, situado em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Naquele ano, a convite do Departamento de Estado, o diretor executivo visitou 23 instituições de música norte-americanas.
“O presidente de lá me falou que tem um sistema de fibra ótica interligando cada vez mais as universidades”, comentou. A transmissão e o recebimento de conteúdos didáticos, por essa razão, acontecem quase que de modo instantâneo naquele país. “Eles conseguem fazer em tempo real. Se houver um atraso, é um milésimo de segundo, nada perceptível”, explicou.
De olho nas possibilidades de intercâmbio, o responsável pela instituição norte-americana propôs que o CDMCC se tornasse parceiro. Com a construção do campus, a proposta poderá ser colocada em prática.
Desta forma, as oficinas e masterclasses que acontecerem na Manhattan School of Music poderão ser acompanhadas por alunos de Tatuí. “E vice-versa”, disse Dourado.
Aproveitando a tecnologia, o corpo de ensino quer dar início a projeto de formação à distância. A proposta é de ter, no campus a ser construído às margens da rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127), duas salas para gravação das aulas em vídeo. O conteúdo seria acessado via internet.
Pelo menos dois espaços seriam destinados à gravações. Um com capacidade para até 25 músicos, e outro, para cinco, mais um professor.
“Ali, poderemos gravar os conteúdos. Inicialmente, no esquema de oficina”, descreveu Dourado. O sonho dele, no entanto, é que as gravações sejam feitas regularmente e que integrem banco de dados para um curso à distância.
“Conforme a velocidade de conexão, o aluno vai poder enviar os vídeos dele para que seja feita avaliação”, disse o diretor. Se colocada em prática, a proposta permitirá, por exemplo, que pessoas de outros Estados, como o Acre, possam estudar no CDMCC.
A intenção da escola de música é criar um banco de dados de aula em médio e longo prazo. Elas serão gravadas seguindo o currículo do ensino tradicional e incluirão uma prova.
“A avaliação pode ser virtual”, disse Dourado. O estudante à distância aprovado receberá, ao final, um certificado de conclusão de curso. “Acho que é uma coisa inevitável”.
Conforme ele, o ensino à distância é tendência cada vez mais forte no mundo. Dourado acredita que o Brasil deve acompanhar a convergência, como acontece nos Estados Unidos. “A gente vai dar uma atenção espetacular para isso”.
A viabilidade do projeto depende, porém, do avanço das novas tecnologias. Em Tatuí, a fibra ótica ainda não atende todo o município – é exceção. Entretanto, o diretor disse que a expectativa é a melhor possível.
“Há interesse do governo em multiplicar a velocidade atual por dez, por causa da Copa do Mundo. Além disso, próximo ao campus, passa, se eu não me engano, um sistema de cabeamento de fibra ótica”.
Além de controlar o progresso do aluno (que enviaria vídeos demonstrando a capacidade de aprendizado), o sistema EAD permitiria que o Conservatório aumentasse o número de alunos.
“Nós poderíamos controlar o número oficial de inscritos, podendo as demais pessoas assistirem à vontade. Seria uma ampliação do CDMCC de uma forma fabulosa”.
Dessa forma, a escola de música poderia expandir o “contingente de alunos estrangeiros”, atualmente, de 45. “Nós poderíamos passar a ter 500”, afirmou Dourado.
Segundo ele, a abrangência não ficaria restrita somente à América Latina. Entretanto, dependeria de “bom tempo” e de nova estrutura, como a do campus. “É um trabalho de longo prazo”.
Para o projeto, o novo prédio é considerado fundamental. A AACT vai dar, conforme adiantou Dourado, atenção mais que especial para a construção do campus.
O projeto da obra já foi licitado, tendo sido feito pela primeira vez estudo para a construção de um prédio na área da antiga “quadrinha”, no terreno onde ficam alguns setores do CDMCC, como o teatro “Procópio Ferreira”.
A primeira licitação contou com participação de quatro empresas, sendo realizada na gestão de João Sayad, à frente da Secretaria de Estado da Cultura, e de José Serra, como governador. O então projeto executivo previa um edifício no terreno.
A obra, porém, revelou-se inviável. “O prédio seria feito numa área de banhado. Na época, pensou-se em comodidade, mas o preço da fundação, das lajes para suportar os andares e outros, tornou tudo caro e inviável”, explicou Dourado.
Em função da inviabilidade, a administração propôs a mudança do projeto para outra área, a que atualmente abriga o alojamento dos alunos do CDMCC.
No espaço, houve gestão de novo projeto, que contempla 11.242 metros quadrados de construção, alojamento com 2.280 metros quadrados, auditório de 664 metros quadrados e outros dispositivos, como refeitório e estacionamento.
O terreno onde será construído o campus tem área total de 18.960,20 metros quadrados. O prédio onde serão realizadas as aulas deve contar com dois pavimentos, um deles incluindo sala de convivência e o auditório que vai desafogar o “Procópio Ferreira”.
O teatro “PF” é utilizado o ano todo para apresentações de grupos musicais, de teatro e de instituições externas à escola.
Para Dourado, a construção de um novo auditório vai não só liberar, como desmistificar a imagem que parte da população tem do “Procópio Ferreira”.
“Vamos fazer público na região do campus e incentivar que as pessoas venham ao centro da cidade, porque há uma ideia de que o teatro é coisa de elite”, apontou.
A ocupação do campus será intensificada com a construção de novos alojamentos. Os atuais devem ser demolidos, gradativamente, e substituídos por novas instalações.
Segundo Dourado, a obra é considerada prioridade pelo governo do Estado. Tanto que o projeto de acústica será feito pela mesma empresa que prestou consultoria para a Sala São Paulo.
“Vamos ter uma coisa para sempre, e vamos poder ‘desalugar’ tudo, acabar com aquela história de aluguel. É economia para nós e a funcionalidade de estar ali todo mundo reunido”, argumentou.
O “aglomerado” deve aumentar com a proposta acrescentada pelo diretor ao projeto original. Dourado sugeriu a construção de um prédio, com apartamentos, para moradia de funcionários e professores. Os imóveis seriam locados a “preços simbólicos”, dotados com cozinha, lavanderia e banheiros.
Para determinado número de apartamentos, estão previstos espaços comuns, para lazer e “troca de ideias” entre os futuros residentes. “Ele será disponibilizado para quem quiser morar dentro do Conservatório, o que é uma coisa espetacular e que já acontece nos Estados Unidos há muito tempo”.
De acordo com ele, a escola de música poderia contar com a figura de professores e compositores residentes. “Acho que é uma coisa muito boa, para eles e para os alunos”. Por essa razão, Dourado e a equipe do CDMCC também sugeriram a construção de um refeitório para o campus tatuiano.
A alimentação seria comercializada a alunos, funcionários e professores a “preços módicos”. O objetivo é permitir maior interação entre os frequentadores do espaço, como acontece em Amsterdam.
“Eu estive com a diretora do conservatório de lá. Ela falou que os alunos entram às 8h, têm aulas, depois estudam, fazem grupos, almoçam e saem de lá perto da 0h para ir embora, porque o responsável pelo prédio enxota todo mundo”, disse o diretor.
Para ele, a grande vantagem do campus é permitir o máximo de vivência musical aos frequentadores. Dourado disse que as moradias dos funcionários, o refeitório de uso comum e os alojamentos destinados aos alunos permitirão aos estudantes de música uma vivência de campus.
“No Brasil, não temos esse modelo. As universidades públicas estão longe disso, porque os alunos moram distante. Até se deslocarem, perdem um tempo enorme. Em música, esse tempo é sagrado. Então, a grande ideia do campus é a da convivência”, falou ele, que espera o anúncio da construção para breve.
A apresentação da maquete do projeto – que já está aprovado – e a divulgação da data do início das obras devem ser feitas pelo governador do Estado. “Existe expectativa de que isso possa ser anunciado em breve, brevíssimo”, disse Dourado.
De acordo com ele, faltam apenas serem feitos “alguns ajustes”. A construção deve ser iniciada no segundo semestre deste ano, com prazo de entrega em 2015.
“Esse é o prazo estipulado. Obviamente que a empresa vencedora vai ter de correr atrás, se virar para poder cumprir no tempo constado em contrato”.
Desde já, a construção do campus é considerada um “acontecimento” na história do município. Além do aumento da projeção de Tatuí para o país – e para o mundo –, o campus mudará a realidade da região da SP-127 e, momentaneamente, da cidade.
O CDMCC estima, num primeiro momento, a valorização da mão de obra local, uma vez que a empreiteira vai preferir contratar pedreiros, carpinteiros, pintores e ajudantes que residam na cidade ou perto dela.
Dourado acredita que a mão de obra local não será suficiente para atender à demanda do campus. Contudo, estima que haverá “grande expectativa de contratação” e, por outro lado, de movimentação do comércio daquela região.
Antônio Ribeiro, assessor pedagógico do CDMCC, explicou que esse desenvolvimento é vislumbrado porque o campus contará com população fixa (professores, funcionários e alunos que residirão no local), além da volante (demais estudantes e frequentadores).
“Evidentemente, isso começa a criar demanda por serviço. Então, estamos imaginando que alguma coisa vai ter de aparecer naquela região para atender aquela população”.
De acordo com Dourado, a expectativa é positiva para o município. O diretor afirmou que há “uma tendência boa” de a cidade crescer na direção daquela região.
O campus ficará na altura do quilômetro 116,5 da SP-127. “Digamos que a população daquele lado da cidade vai ficar maior do que já é, o que vai exigir novos espaços e novos serviços”, argumentou.
A descentralização, aliás, é outro fator que pesou na decisão de transferir a construção da “quadrinha” para o terreno onde atualmente funciona o alojamento “João Eurico de Melo Toledo”.
Dourado afirma que a região central de Tatuí está sufocada e que, caso o Conservatório construísse um prédio na região central, traria, com ele, problemas como congestionamento e falta de estacionamento para veículos – o que não ocorreria na “SP”.
Segundo o diretor executivo, o governo do Estado já conta com verba para iniciar a construção do campus. Dourado explicou que a empresa vencedora da licitação desenvolveu, além do projeto arquitetônico, o executivo. Diferentemente do que aconteceu quando houve a proposta de construção na área da “quadrinha”.
“É muito mais prático pegar uma empresa, escolher entre as competidoras uma que fizesse de tudo. Acho que sai mais econômico, tem mais a ver, porque é como eu começar uma partitura e outra pessoa terminar”, comparou.
Para o diretor executivo, a construção do campus será o “grande acontecimento em termos de música no país”. No Brasil, conforme ele, espaços projetados especialmente para música são raridades.
Entre eles, está a Sala São Paulo, na capital do Estado. “O Rio de Janeiro tentou fazer algo parecido, mas não deu certo. O grande passo vai ser dado em Tatuí”.
Segundo Dourado, além de definitivo, o campus será um marco na história da música e deverá enterrar, para sempre, a ideia de que o Conservatório sairá de Tatuí.
“Digo que a construção vai ser definitiva, é algo pensado, que vai durar mais 50 anos e que não vai sair do município. Por isso, temos de ter espaços sobrando, para que, no futuro, possamos utilizá-los”, argumentou.
A transferência do corpo de estudo do prédio atual – na rua São Bento, no centro da cidade – para o campus trará outro benefício aos estudantes da escola de música. No novo complexo, eles contarão com espaços para estudos (teóricos e práticos), considerados essenciais para quem estuda instrumentos.
“O aluno aqui, mesmo que more em república, não pode fazer barulho. Estabelecendo regras, no novo alojamento dentro do Conservatório, ele vai ter como estudar”, disse Dourado. A utilização deve acontecer na metade de 2015. “Vai ser um evento sem precedentes”.
“Será uma reinauguração em grande estilo”, comentou ele, que deverá negociar, com a nova administração pública do município, linhas de ônibus para o campus.
“Obviamente que temos de fazer cálculo de movimentação, mas devemos acertar isso tudo com o prefeito, que está muito receptivo”, concluiu o diretor executivo.
                                                                                     Oprogressodetatui.com.br

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