domingo, 23 de dezembro de 2012

Artistas locais expõem em dois espaços


Do sábado da semana passada, 15, até 16 de janeiro, as artes visuais tatuianas têm dois endereços. A exposição “Para Entender a Arte Contemporânea”, que reúne trabalhos de oito autores locais e oito convidados, está em cartaz no Museu Histórico “Paulo Setúbal” e na sede da Amart (Associação dos Artistas Plásticos de Tatuí e Região).
A mostra é organizada pela Amart Cultural, com apoio da Secretaria de Estado da Cultura e do Ministério da Cultura. Por meio dela, os artistas encerram as atividades da edição 2012 do “Encontro de Artes Visuais de Tatuí”.
A abertura da exposição aconteceu na noite de sábado. Na primeira parte, realizada no museu, houve palestra com o curador da mostra, o crítico de arte Enock Sacramento. Em seguida, os convidados participaram de coquetel na sede da Amart.
Os oito artistas tatuianos que participam da exposição são filiados à Amart e receberam orientações ao longo do ano. O trabalho coube à artista plástica Regina Carmona. Ela analisou as propostas de cada artista e os ajudou na composição dos diferentes tipos de trabalhos.
Os participantes do Encontro de Artes Visuais de Tatuí neste ano são: Júlio Cesar Adum, Mingo Jacob, Marli Fronza, Neil Milanezi, Carmelina Monteiro, Edinei José Milanês, Rivaldo Nogueira e Raquel Fayad.
Eles foram indicados e selecionados por Regina e Sacramento, por meio da apresentação de propostas. “São artistas que estão realmente interessados em seguir a carreira com projetos diferenciados”, comentou a orientadora.
Segundo ela, o foco do trabalho deste ano deveria ser a arte contemporânea, tema de oficinas e palestras ministradas por Regina. O estilo artístico também serviu de critério para a seleção dos nove convidados para a mostra.
“A exposição representa o fechamento deste ciclo de orientações e, para que fosse consistente de valor e para que abraçasse todos estes parâmetros de arte contemporânea, que foi o que nós trabalhamos durante o ano, eu propus que nós fizéssemos em dois lugares e que tivéssemos artistas de fora”, explicou a orientadora.
Foram convidados para expor: Christophe Spoto, Vitor Mizael, Nicole Mouracade, Katia Salvany, Marilda Passos, Renata Barros e Walter Miranda, além da orientadora, cujo trabalho também integra a exposição. “São artistas que estão trabalhando com arte contemporânea”, destacou Regina.
Segundo ela, o objetivo de unir os trabalhos dos tatuianos e dos convidados é promover “diálogo”.
“É para que os artistas de Tatuí percebessem o quão próximos estão da arte contemporânea. Às vezes, eles acham que estão muito distantes, quando, na verdade, temos artistas prontos e bons aqui dentro”.
Ao escolher a arte contemporânea como tema das atividades deste ano, a orientadora espera contribuir para que o estilo se torne mais conhecido e “compreendido” pelo público. Conforme Regina, a presença de artistas contemporâneos de outras cidades também é importante para isso.
“Ao contrário do que todo mundo fala, estes trabalhos (contemporâneos) podem ser compreendidos. Com um pouquinho de atenção, você entende tudo. Os artistas estão falando de si, das situações que eles vivenciam, das suas ideias. São coisas tão vivas e podem não ser vistas como ‘bicho de sete cabeças’. Alias, até o bicho de sete cabeças é um ser e pode ser compreendido”, disse ela.
As exposições na Amart e no museu apresentam a arte contemporânea por meio de diversos tipos de técnicas e linguagens. Entre elas, pinturas, objetos, instalações, performance e videoarte.
“Estamos falando de propostas muito diversificadas, que abordam várias tendências. O importante é isso: mostrar o que é arte contemporânea e apresentar estes trabalhos, que são muito atuais, algumas até em cartaz antes desta mostra”, avaliou a orientadora.
Entre as peças expostas, está “Sé”, frotagem sobre lona que Marli Fronza produziu neste ano para a “Série Chão”. O trabalho está em uma das paredes do andar térreo do museu.
“Ruídos, texturas, formas e composições existentes nas ruas, calçadas e bueiros são transferidos para a lona, desprendendo-se do lugar-comum para o espaço nobre e expositivo”, descreveu a artista.
Os visitantes da mostra também podem conhecer a instalação “Convés”, de Julio Cesar Adum. Segundo o autor, trata-se de uma “obra viva”, que reúne objetos e materiais de natureza variada.
“Colagem, pintura e luz desenvolvem perceptos em busca do eixo que será base para romper os pontos da composição linear”, resumiu Adum, cuja obra está na sede da Amart.
Os 16 artistas participantes de “Para Entender a Arte Contemporânea” têm trabalhos expostos nos dois endereços. De acordo com a curadora, o propósito de expor em dois espaços é valorizar a produção dos artistas.
“O museu sempre é visto como ‘templo’ das artes. Já a sede da associação representa o lugar em que se desenvolve todo o trabalho dos artistas. A mensagem é que os artistas de Tatuí são tão bons a ponto de poderem estar no museu”, afirmou Regina.
A orientadora dos trabalhos teve o primeiro contato com os artistas locais há três anos. De acordo com ela, nesse período houve um “crescimento impressionante”.
“Eu não conhecia antes, mas acompanhei a produção dos artistas plásticos de Tatuí nos últimos anos e percebi que melhorou o nível de entendimento e a proximidade com o mundo artístico”, comentou.
Regina também destacou a força do segmento cultural na cidade. Segundo ela, um polo de difusão cultural como a Amart é o que pode haver de mais produtivo em uma cidade.
“O que a gente quer mostrar é isso: essa capacidade que os artistas tatuianos têm. Acreditem neles, por favor”, concluiu.

Hibridismo

Quem participou do evento de abertura da exposição “Para Entender a Arte Contemporânea”, além de conhecer trabalhos que representam o movimento, pôde conhecer alguns conceitos a respeito.
Crítico de arte há mais de 40 anos, Enock Sacramento realizou a palestra que abriu as atividades na noite de sábado. Ele abordou, principalmente, o conceito de “hibridismo” que marca a arte contemporânea.
De acordo com Sacramento, são as misturas de elementos e linguagens diferentes que definem uma obra de arte contemporânea. Para ele, o estilo atua, sobretudo, “com misturas de meios tradicionais com ampliação de conceitos e criação de novas poéticas”.
“Eu considero que pintura, escultura ou desenho são linguagens puras, porque começam e terminam naquela mesma técnica. Quando se pega uma instalação, por exemplo, ela envolve arquitetura, porque constrói um espaço no qual a pessoa entra, apresenta música, vídeo, outras formas de artes, constituindo tudo numa obra só”, comentou o crítico.
O palestrante disse que, por conta da diversidade de manifestações, algumas pessoas chegam a questionar a aplicação das obras de arte, principalmente contemporâneas, na vida prática. Segundo ele, é justamente isso que diferencia a produção artística.
“A arte é contemplação e não está ligada ao uso na vida prática. Por isso, um automóvel não é considerado arte, por mais belo que ele possa ser”, disse.
No entanto, Sacramento ressaltou que, apesar de não ser diretamente ligado ao uso, o trabalho artístico é importante para a humanidade.
“A arte existe para suprir uma necessidade profunda do ser humano. O homem não admite aquilo que não lhe oferece alguma utilidade e, além disso, sabe que precisa dos momentos de contemplação do belo”, sustentou o palestrante.
                                                                                     Oprogressodetatui.com.br

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